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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Caso Aryane: juiz ouve 29 testemunhas e o réu nesta sexta-feira


Irmão e mãe de Aryane durante forte abraço


Da Redação

Foi com um forte abraço que mãe e irmão da estudante Aryane Thais se cumprimentaram na porta do Fórum Criminal em João Pessoa, nesta sexta-feira (10), e seguiram em direção à sala do 2º Tribunal do Júri onde, às 9h, teve início a primeira audiência de instrução e julgamento do crime que ficou conhecido como caso Aryane.

A estudante Aryane Thais, de 21 anos, foi encontrada morta às margens da BR-230 no dia 15 de abril. A garota estava grávida do principal suspeito do crime, o estudante de Direito Luis Paes Neto, de 23 anos.

De acordo com o juiz Marcos William, serão ouvidas 29 testemunhas e ainda o réu. O juiz informou ainda que audiência deve seguir até a noite. “Se não der para ouvir todas as testemunhas, será designada uma nova data”, explicou.

Os advogados de defesa, Genival Veloso e Luis Azevedo, disseram que todas as provas são insuficientes e se baseiam apenas na interpretação de uma delegada. "Só consta a interpretação pessoal da delegada Iumara Gomes”, garantiram.

Já a promotoria, não tem dúvidas de que Luis Paes é o autor do crime. “Todas as provas apontam para o principal acusado. Estou convencido plenamente de que ele é culpado do crime”, disse Alexandre Varandas.

Segundo ele, o crime foi premeditado. “No dia do crime, o estudante ligou várias vezes para Aryane, mas as últimas ligações foram de um número confidencial. Não existe crime perfeito, existe sempre uma brecha”, concluiu.

No primeiro momento o juiz chamou todas as testemunhas e leu na íntegra a denúncia apresentada pelo Ministério Público contra o acusado e em seguida ouviu a primeira testemunha de acusação.

Primeira testemunha

Thalita Carneiro, irmã da vítima, foi a primeira testemunha ouvida, ela seria a 9ª testemunha, mas como está grávida de nove meses, pediu para ser ouvida antes. No momento do depoimento, o réu teve que sair porque estava constrangendo a testemunha.

Ela disse que não conhecia o acusado e que também desconhecia a gravidez de Aryane. “Só fiquei sabendo de tudo isto após a morte”, explicou. Outras 28 testemunhas serão ouvidas durante o julgamento.

Prezados Leitores,


Um tema intrigante, que se refere a como provar a justa causa de uma empregada doméstica, quando a dificuldade de se apresentar testemunhas é enorme.

Melhor explicando, a prova testemunhal que normalmente é usada para comprovar a falta grave do empregado, pelo seu ex-empregador [ obrigação de quem acusa], deve ocorrer através de testemunhas isentas, que não tenham amizade íntima com o empregador.

Na hipótese específica do cometimento da justa causa pela empregada doméstica – entendo que pode – ser produzidas por testemunhas que façam parte do convívio familiar, que sejam amigas da família, excetuando-se os parentes.

A justificativa é que o trabalho da doméstica se dá no seio da família e obviamente só as pessoas que frequentam a residência ou que lá trabalham é que podem servir de testemunha do fato.

Fica então o registro, de que é possível aplicar a pena máxima da demissão, ressalvando-se aqui que o empregador deve sempre medir as consequências dessa atitude e já indentificar quais as provas testemunhais que poderá contar, na hipóitese de um litígio.

A discreção é essencial nessa tomada de decisão, para evitar o risco de ser exigido pela demissionária a reparação por danos morais.

domingo, 5 de setembro de 2010

Secretário está no programa de Proteção a Testemunhas.


0 ex-secretário de Governo Eleandro Passaia, responsável pelas denúncias que resultaram na prisão do prefeito de Dourados, secretários municipais e 9 dos 12 vereadores da cidade, está no Programa de Proteção a Testemunha.

A informação foi confirmada há pouco pelo diretor do Sindicato dos Jornalistas de Dourados, Antônio Coca. Ao Douradosagora ele disse que a informação foi prestada pelo Delegado Bráulio Cesar Galloni, logo após a coletiva com a imprensa na tarde de quarta-feira.

Segundo Antônio Coca, o delegado deixou claro que Eleandro Passaia não está na Delação premiada. "A diferença é que o ex-secretário não cometeu crime antes das investigações e nem depois", esclareceu.

O jornalista Eleandro Passaia foi o braço direito de Ari Artuzi durante a campanha política, que o elegeu no final de 2008. Assumindo a prefeitura, Artuzi nomeou o jornalista como seu secretário de Comunicação. Passando alguns meses, após a Operação Owari, que levou secretários, vereadores, servidores públicos e empresários para a prisão em julho de 2009, Passaia pede demissão, depois de receber uma proposta da TV Record.

Passados alguns meses, Passaia recebe nova proposta de Artuzi para reassumir a Secretaria de Comunicação. O jornalista acaba aceitando, porém, conforme sempre pregou, tinha outros objetivos profissionais, que o levaram aceitar a proposta, uma delas seria promover o município, mostrando as suas potencialidades afim de atrair investimentos.

Ele também dizia que acreditava no trabalho de Artuzi por ser uma pessoa batalhadora, porém discriminada politicamente, pois muitos, não acreditavam em seus projetos. Os planos de Passaia era reverter a imagem negativa do prefeito, mostrando a competência do gestor para alavancar o desenvolvimento do município. Tanto que quando Dourados completou 75 anos, em dezembro do ano passado, foi lançado um selo para propagar a cidade pelo Brasil, com uma mensagem sugestiva: “Dourados 75 anos, o melhor lugar para se investir”. “Queremos mostrar as potencialidades de Dourados, e o selo é uma forma de conseguir esse objetivo”, dizia Passaia.

Percebendo a sua habilidade para lidar com a Imprensa e confiança no seu trabalho, Artuzi também achou que Passaia teria a mesma habilidade para lidar com os políticos e por isso, há quatro meses, o convidou para ser seu secretário de Governo. Passaia acabou assumindo a função, mas não deixou de responder pela Secretária de Comunicação.

sábado, 17 de julho de 2010

Testemunhas Vítimas da Impunidade

EUVI
















Movidos por um sentimento em comum, e buscando através de práticas, pais e familiares de vítimas de violências, se reuniram em Curitiba pra o Segundo Encontro Unificado das Vítimas de Impunidade.

Presidido e criado por Wilson Caetano de Araújo, sendo a Organização do Evento em Curitiba, por Elizabeth Metynoski, mãe do pequeno Górgio Renan,
O EUVI (Encontro Unificado das Vítimas de Impunidade), tem por finalidade, promover o abaixo-assinado que se pretende ser transformado em ação popular e que será entregue pessoalmente ao Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva, solicitando deste e do próximo Presidente um plebiscito. A ação que propõe plebiscito, visa entretanto à consulta popular de dois temas polêmicos:-

I- Alteração na Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA. Com a alteração da Lei, o menor que praticar crime hediondo será emancipado, independente da idade. A intenção desta medida é garantir que os acusados de crimes desta natureza sejam responsabilizados e inibir estes crimes pois devido a Lei vigente atual, acabam por ficar impunes, independente da crueldade e hediondez de seus crimes e ainda têm suas fichas limpas ao completar a maioridade.

II- Alteração na Constituição Federal, Código Penal - (Focando principalmente a abolição do limite máximo de reclusão de pena para crimes hediondos, que hoje é de trinta anos, podendo chegar ao máximo do cumprimento fechado de cinco, em razão dos benefícios e respaldos das leis). Tornando assim, as Leis mais sérias e rígidas.

A união destes familiares, prioriza a luta contra a acomodação da sociedade á frente das bárbaries.

Por: Elizabeth Misciasci

2º Encontro Unificado das Vítimas da Impunidade

DATA E HORÁRIO: dia 11 de outubro de 2009 a partir das 13:00 h
LOCAL: Auditório do Colégio Estadual Júlia Wanderley,
ENDEREÇO: Av. Vicente Machado, 1643 – Centro – Curitiba – Paraná
PRESENÇAS CONFIRMADAS: -Carlos Santiago – pai da Gabriela – Grupo: Gabriela Sou da Paz; Ari Friedenbach – pai da Lianna Friedenbach; Elizabeth Metynoski – mãe do Giorgio Renan – Movimento Giorgio Renan Por Justiça; Wilson Caetano e Ângela Guedert - pais da Emily – Grupo: Uma Paixão Pela Vida.

OBJETIVO: Este encontro nacional dos familiares das vítimas de violência e impunidade de todo país se unem com finalidade de promover o abaixo assinado que constituirá uma ação popular e que será entregue pessoalmente ao Presidente da República Luis Inácio Lula da Silva, solicitando deste e do próximo Presidente um plebiscito visando dois temas;

1- Alteração na Constituição Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA.
Com a alteração da Lei, o menor que praticar crime hediondo será emancipado, independente da idade. A intenção desta medida é garantir que os acusados de crimes desta natureza sejam responsabilizados e inibir estes crimes pois devido a Lei vigente atual, acabam por ficar impunes, independente da crueldade e hediondez de seus crimes e ainda têm suas fichas limpas ao completar a maioridade.

2- Alteração na Constituição Federal, Código Penal.

Abolição do tempo máximo de reclusão (30 anos), para que o criminoso cumpra pena integral que for determinado em juízo competente.

Para que este projeto seja aprovado é necessário 1.400.000 assinaturas e o prazo previsto é agosto de 2010, em plena Campanha Eleitoral de 2010.

Abertura do Evento: Ana Lúcia de Albuquerque Schulhan
Diretora de Administração Escolar da Secretaria de Educação do Estado do Paraná

Palestra durante o Evento: Comportamento Criminoso
Palestrante: Rodrigo Soares Santos
Psicólogo Forense e Professor de Psicologia Forense da Faculdade de Direito Curitiba.

O evento será aberto ao público e para mais detalhes

POR QUÊ NÃO SE OFICIALIZA A PENA DE MORTE NO BRASIL.


Venho acompanhado pela mídia, séries e séries de homicídios pelo país ,incluindo envolvimento de celebridades...enfim,a ponto da população clamar urgentemente pela reforma do código penal e até a pena de morte.
A questão importante é que a morte é um processo que reflete direto no Sistema Natural da Terra.E se o processo não seguir a risca a Lei Natural (A Lei de Deus),as conseqüências serão trágicas para as pessoas ligadas diretamente na região do processo capital.O resultado que se espera,não será alcançado.
Segundo a Lei de Deus(Sistema Natural da Terra),os crimes que obrigatoriamente devem ser levados a pena capital,na prática,são:seqüestro,estupro,pedofilia,homicídio, terrorismo , traição a Pátria e tráfico de entorpecentes,pois são considerados crimes federais(todo atentado a vida humana e a nação,são considerados crimes federais). Com exceção,lógico,de ter que matar em defesa da vida,família e propriedade(legítima defesa),pois tais instituições,são invioláveis e ao mesmo tempo sagradas.
Para crimes federais,seja a idade que tiver o autor,é passivel de pena de morte.Não há impunibilidade para crimes federais.
Quanto a homicídio involuntário,divide-se em duas situações:fatalidade e irresponsabilidade.No caso de um homicídio involuntário,causado por uma irresponsabilidade grosseira,a qual o autor sabia dos riscos e ?deu de ombros,ou prosseguiu no seu intento,também é um caso de ser levado a pena capital,ex: por ter dirigido embriagado,drogado, ou sendo dono de um animal que sabe que o mesmo é perigoso e pode matar e irresponsavelmente permitiu que o animal tivesse a oportunidade de atacar uma pessoa e matá-la,quer dizer,não manteve o animal preso de forma correta,mesmo sabendo do risco que isso poderia causar.Ser responsável por algo,ou qualquer coisa que sabe estar perigosamente ameaçando a vida de outros e não cuidou para que tal perigo fosse extinto e que infelizmente a coisa aconteceu e ceifou vidas. Nesse caso,especifico,e só nesse caso,o homicida tem a chance de ter sua vida resgatada,que seria aceitar e pagar os parentes da vítima,ou vítimas,tudo que lhe for imposto,pela parte reclamante da vítima falecida.Que se houver o resgate da vida do autor,o objeto,ou animal que contribuiu pra matar,terá que ser destruído.
Já no caso de um homicídio causado por uma fatalidade,não é caso para pena capital.
No caso de uma abertura de processo de pena capital,a primeira coisa a fazer,é isentar e proteger o estado de uma eventualidade de erro.Por isso,só se pode abrir um processo de pena capital,com no mínimo duas testemunhas oculares,eu disse,duas testemunhas oculares.Não serve nenhum testemunho tecnológico,como vídeos,fotos...enfim,tem que ter testemunha humana.
Tendo só uma testemunha ocular,o processo não pode ser aberto. As duas testemunhas tem que verdadeiramente,ter visto o autor praticar o crime que se reclama no processo.Se os relatos das testemunhas forem vagos,o processo não poderá seguir,mesmo que o resultado da investigação policial comprove que o acusado seja o autor do crime.Seguir-se-a o processo criminal comum,porém a pena de morte ao acusado,fica descartada.
Para pena de morte,testemunhas oculares são imprescindíveis.Sem testemunha ocular,não há pena de morte. Os relatos das testemunhas devem ser transparentes e claros,sem dúvida,ou qualquer hesitação. Junto com os relatos das testemunhas,o processo de investigação policial contra o acusado,devem seguir uma linha idêntica ao relato das testemunhas,coincidindo em um só ponto.
Investigadores de polícia e técnicos forenses de outro estado diferente de onde se praticou o crime,podem e devem ser escolhidos pela defesa do acusado e convocados pela União pra trabalharem também na investigação do crime,a favor da defesa.
Em relação a crimes federais que podem levar a pena capital,todo custo processual de acusação e defesa,é bancado pela União,pois um crime de morte,não é um crime municipal,ou estadual.Todo crime de morte,é de responsabilidade da União.Pois cabe a União,a segurança e preservação da vida de seus cidadãos.Se um cidadão foi assassinado,houve falha da segurança pública e a União responde por isso,custeando todo o processo do acusado.É uma forma da União também ser punida.
Sendo assim,com a União custeando todo o processo,é dado todos os instrumentos necessários a ampla defesa do acusado,podendo a família do acusado escolher até o advogado que ela,a família do acusado,quer que o represente.O custo é sempre bancado pela União.Inclusive o enterro do executado.
Com os dois times montados,inicia-se os trabalhos. Chegando a conclusão da culpabilidade do acusado,segue-se então o processo de execução, que só poderá ser feito,em uma área onde não nasça nada,longe de rios,mananciais e qualquer área verde.Em resumo,uma área também condenada.Uma área morta. As testemunhas da acusação também são obrigadas a permanecerem presentes no local da execução,até a finalização do processo,quer dizer,até o médico constatar que o condenado executado está clinicamente morto.
A execução tem que ser pública e só pode ser feita durante o dia,sendo que o corpo do condenado deve ficar exposto publicamente(para temor dos demais), no máximo até as cinco horas da tarde,quando então deve ser enterrado antes do anoitecer.Em hipótese nenhuma é permitido crueldade ao executado por partes dos executores.A execução tem que ser rápida e prática.Fuzilamento,ou enforcamento.
Só a autoridade máxima política do país é que tem poder para parar tal processo,ou conceder o perdão ao condenado.
Se porventura anos mais tarde,o estado vier a descobrir que a pessoa executada era inocente,as testemunhas de acusação que fizeram parte do processo,serão caçadas,presas e executadas sem julgamento.Em hipótese nenhuma,o estado pode ficar com a culpa de uma condenação injusta.Toda vez que isso acontecer,as testemunhas de acusação no processo,receberão a mesma sentença que o condenado injustamente recebeu.
E se a condenação foi justa,sempre as testemunhas de acusação é que carregarão o fardo de tal condenação ter acontecido.Em resumo,o estado não acusará e nem será responsável por erros processuais condenatórios.Sempre terão que ser as testemunhas da acusação as responsáveis diretas em todo o processo.O estado jamais acusará e jamais absolverá.As testemunhas mentirosas,receberão a mesma condenação,a que o réu condenado injustamente sofreu.
Havendo absolvição do acusado,os investigadores e técnicos forenses que trabalharam a favor da defesa,terão o direito legal de se transferir e escolher trabalhar em qualquer outro lugar da federação,conforme o vosso desejo,ou serão promovidos e aí...a União é que escolherá o novo lugar de trabalho.Se os investigadores e técnicos forenses que trabalharam a favor da defesa,quiserem a promoção,não terão o direito de escolha própria de um novo lugar de trabalho,cabendo esse direito a União.Porém se não quiserem a promoção,poderão escolher um novo lugar de trabalho,conforme assim desejar.
As transferências por parte de desejo próprio,não são obrigatórias.Podendo os investigadores e técnicos forenses que trabalharam para a defesa,continuarem seus trabalhos no mesmo lugar em que estavam antes de serem convocados para o processo.Porém se optarem pela promoção,aí sim,a transferência é obrigatória e a escolha do novo lugar de trabalho,a cargo da União.
Quanto aos investigadores e técnicos forenses que trabalharam para a acusação,obrigatóriamente serão imediatamente transferidos para outras regiões do país,na mesma função,posto e salário;segundo onde a União achar suas realocações necessárias.
Havendo a condenação e execução do acusado, para os membros do estado que fizeram o trabalho técnico,tanto da acusação,quanto da defesa,em nada será alterado.Todos continuam nas mesmas funções e estados em que estavam antes de serem convocados para o processo. A premiação é só para a absolvição.É como uma espécie de comemoração pela vida.E só no caso de processo que leve a pena capital.
Notamos assim,que... para que tal processo possa ser viável,a segurança pública precisaria ser federalizada.Tanto polícia militar,civil e técnica,não poderiam mais continuar nas mãos do estado da federação.O estado federativo ficaria somente com a polícia metropolitana.
Vemos então que tal processo,é complexo ,caro e impossível de ser implantado com o atual sistema político do país.Porém, só pode ser feito,se for desta forma.
A redução de crime de morte,depende muito da forma de como o processo capital é conduzido. A natureza não aceita meio termo.Ou faz o correto,ou não será aceito.
Por isso é que a pena de morte em vários países,não resulta na diminuição de crimes de morte.Pois como relatei,a morte reflete direto no Sistema Natural da Terra.Envolve a natureza diretamente no processo.O Sistema Natural da Terra,não admite ignorância no trato,quando o envolve diretamente.
Essa é a questão.Esse é o grande problema.

Testemunhas oculares Os crimes norte-americanos

Depoimentos de testemunhas oculares dos crimes de guerra norte-americanos em Falluja estão a começar a vir à luz do dia, à medida que os refugiados regressam e algum contacto é restabelecido com os que ficaram. Também há relatos de que a resistência armada que os EUA tentaram esmagar quando atacaram a cidade em Novembro não foi eliminada em Falluja, ainda que actualmente a maior parte da luta tenha mudado para outras cidades.

Essa cidade de cerca de 300.000 habitantes tornou-se num foco da resistência à ocupação logo após as tropas dos EUA a terem tomado em Abril de 2003. Em Abril do ano passado, a resistência expulsou os ocupantes. As tropas norte-americanas não conseguiram retomar a cidade apesar de um cerco de um mês. Em Novembro, as forças dos EUA começaram uma campanha de bombardeamento que destruiu quase toda a cidade. Centenas de milhares de habitantes foram obrigados a fugir, enchendo os campos de refugiados em Bagdad e noutras cidades. No final, o exército dos EUA anunciou que tinha “quebrado a espinha” da resistência em Falluja.

A maior parte dos residentes da cidade foi impedida de regressar. Milhares de pessoas estão a passar o inverno frio em cidades de barracas nos terrenos da Feiras Internacional de Bagdad, em instalações universitárias e noutros locais da capital. A 22 de Dezembro, activistas contra a guerra vindos da Grã-Bretanha e doutros países organizaram um protesto toda a noite na Praça do Parlamento em Bagdad, para exigir justiça para esses refugiados. O antigo Coordenador Humanitário da ONU para o Iraque, Denis Halliday, apoiou a manifestação.

Os comandantes norte-americanos declararam a sua intenção de fazer da Falluja ocupada uma “cidade modelo”, anunciando que, à medida que os primeiros residentes regressassem às suas casas na véspera do Natal, os soldados norte-americanos tirariam as suas impressões digitais e amostras de DNA e registariam as suas retinas. Aos residentes seria emitido um distintivo com a sua morada e seria considerado um crime não o usar permanentemente. Seriam impedidos de conduzir veículos a motor na cidade, com medo, diziam os ocupantes, dos carros-bombas. As autoridades norte-americanas avisaram as famílias que regressavam para não comerem nenhum dos mantimentos que tivessem deixado para trás, o que levou à especulação de que as tropas dos EUA tinham usado produtos químicos contra os resistentes ou envenenado a comida.

O primeiro grupo autorizado a regressar, de cerca de 2000 habitantes, era do bairro Andalus, que se dizia ter sofrido menos danos que os outros lugares. A 24 de Dezembro, o Dr. Saleh Hussein Isawi, director auxiliar do hospital geral de Falluja, que acompanhou alguns dos refugiados da cidade, fez a seguinte descrição ao serviço de notícias da BBC:

“Cerca das 8 horas da manhã de sexta-feira, o posto de controlo norte-americano a oeste de Falluja concordou em deixar que os habitantes da cidade, especialmente os que viviam no sector de Andalus, entrassem para ver as suas casas. Eu estive lá dentro da cidade – neste momento, cerca de 60 a 70% das casas e edifícios estão completamente arrasados e danificados e impróprios para habitar. Dos 30% que ainda estão de pé, acho que não há um único que não tenha algum dano.

“Um dos meus colegas... foi ver a sua casa e viu que estava quase completamente desmoronada e que estava tudo queimado no seu interior. Quando foi ver a casa dos seus vizinhos, descobriu que um seu familiar estava morto e que um cão tinha comido a sua carne.

“Acho que iremos ver muitas coisas como estas, porque as forças dos EUA limparam os cadáveres das ruas, mas não dentro das casas.

“A maior parte das pessoas está a voltar a sair da cidade depois de verificar que as suas casas não estão habitáveis. Mas eu vi duas famílias que ficaram em Falluja apesar das suas casas terem ficado claramente danificadas e um homem que só tem um quarto para viver disse-me que ficaria porque tem vivido em muito más condições fora de Falluja. Disse-me que trará outros membros da sua família e aí habitará – que não podia fazer outra coisa.

“Não há água, nem electricidade, nem esgotos – não há nada dentro da cidade, excepto uma quantidade muito pequena de materiais médicos que vieram do hospital de Falluja em duas ambulâncias. Há um centro de saúde primária dentro da cidade com dois médicos a fornecerem medicamentos e assistência médica aos habitantes.

“Estive ontem à noite no hospital de Falluja e ouvi muitos combates e bombardeamentos que continuaram durante cerca de três ou quatro horas. Ouvi explosões com grandes estrondos dentro da cidade.”

A 31 de Dezembro, vários milhares de refugiados manifestaram-se frente à entrada principal da cidade cheia de escombros, exigindo o fim das medidas de controlo das entradas, a restauração dos serviços básicos e a partida das forças militares dos EUA. Há relatos de que, durante as semanas que se seguiram, dezenas de milhares de habitantes de Falluja regressaram à sua cidade ocupada, apesar do recolher obrigatório do anoitecer ao amanhecer.

O mesmo médico foi entrevistado a 4 de Janeiro por uma unidade de informação da ONU, a IRIN. Disse que a equipa de emergência do hospital tinha recuperado mais de 700 corpos dos escombros do que antes eram casas e lojas. Ele explicou que mais de 550 desses mortos eram mulheres e crianças e a maior parte dos homens eram velhos. Até essa altura, a sua equipa só tinha podido entrar em nove dos 27 bairros da cidade.

O exército dos EUA declarou ter morto cerca de 2000 resistentes. Tendo em conta que esses guerrilheiros estavam a combater uma invasão estrangeira, mesmo essas mortes são injustas. Mas os invasores não fizeram qualquer distinção entre resistentes e qualquer outra pessoa. Destruíram tantos edifícios quantos puderam para “suavizar” os resistentes antes do seu ataque. No que era suposto ser a fase final dos combates, quando as forças terrestres dos EUA vieram com toda a força ocupar o que esperavam vir a ser um cemitério em massa, mesmo os seus comandantes citados na comunicação social admitiram que tinham morto tudo o que se movia, todos os seres humanos que encontravam e mesmo animais. Usaram detectores de calor para encontrar sinais de vida nas ruínas e então atingiam-nos com armamento pesado. De facto, eles tinham medo de toda a gente. Antes de entrarem nos edifícios para os “limpar” de suspeitos resistentes ou de esconderijos de armas, atiravam granadas ou explosivos.

Um operador de câmara da Companhia de Radiodifusão do Líbano, Burhan Fasa'a, contou ao jornalista independente Dahr Jamail o que tinha visto durante os combates em Novembro. “ ‘Entrei em Falluja perto do bairro de Julan que fica perto do Hospital Geral’ disse ele durante uma entrevista em Bagdad. ‘Havia atiradores norte-americanos por cima do hospital que disparavam sobre toda a gente’.

“Ele fumou nervosamente ao longo de toda a entrevista, ainda visivelmente abalado pelo que vira.

“A 8 de Novembro, o exército estava a permitir que as mulheres e as crianças abandonassem a cidade, mas não os homens. Não foi autorizado a entrar na cidade através dos principais postos de controlo, pelo que rodeou Falluja e conseguiu entrar, precariamente, caminhando por uma zona rural perto do hospital principal, tomando então um pequeno barco pelo rio para filmar dentro da cidade. ‘Antes de eu encontrar o barco, estava a 50 metros do hospital onde os atiradores norte-americanos disparavam sobre todas as pessoas que viam’, disse ele, ‘Mas consegui entrar’.

“Ele descreveu bombardeamentos tão pesados e constantes pelos aviões militares norte-americanos que raramente passava um minuto sem que a terra tremesse devido à campanha de bombardeamentos. ‘Os norte-americanos usaram bombas muito pesadas para quebrar o espírito dos resistentes de Falluja’, explicou ele e abriu os seus braços para acrescentar: ‘Eles bombardearam tudo! Quero dizer, mesmo tudo!’

“Isso continuou durante os dois primeiros dias, disse ele, e então, ao terceiro dia, colunas de tanques e de outros veículos blindados começaram a movimentar-se. ‘Um gigantesco número de tanques, de veículos blindados e de tropas tentaram entrar pelo lado norte de Falluja’, disse ele, ‘Mas eu filmei pelo menos doze veículos dos EUA que foram destruídos’.

“O exército ainda não estava em condições de entrar em Falluja e retomou os bombardeamentos. ‘Eu vi pelo menos 200 famílias que viram as suas casas desmoronarem-se sobre as suas cabeças devido às bombas norte-americanas’, disse Burhan enquanto olhava para o chão, com uma grande cinza a oscilar no seu cigarro. ‘Os habitantes de Falluja já precisavam de tudo! Quer dizer, já não tinham nenhuma comida nem medicamentos. Vi um grande número de pessoas mortas na parte norte da cidade e a maior parte delas eram civis.’

“Nesse momento ele começou a contar história após história sobre o que vira durante a primeira semana de cerco. ‘Os mortos eram enterrados em jardins porque as pessoas não podiam deixar as suas casas. Havia tanta gente ferida e sem cuidados médicos, que as pessoas morriam das suas feridas. Toda a gente na rua era um alvo para os norte-americanos; eu próprio vi inúmeros civis atingidos por eles.’

“Ele olhou para a janela e respirou fundo várias vezes. Nessa altura, disse ele, a maioria das famílias já tinha falta de comida. As famílias estavam a mover-se furtivamente para as casas vizinhas à procura de comida. A água e a electricidade tinham sido cortadas há muito. O exército apelava em altifalantes para que as famílias se rendessem e saíssem das suas casas, mas Burhan disse que toda a gente tinha demasiado medo de deixar as suas casas, pelo que os soldados começaram a dinamitar as portas das casas e a fazer rusgas.

“ ‘Os norte-americanos não tinham consigo os intérpretes, pelo que entravam nas casas e matavam as pessoas apenas porque não falavam inglês! Entraram numa casa onde eu estava com 26 pessoas e dispararam sobre pessoas que não obedeceram às suas ordens, só porque as pessoas não conseguiam entender uma única palavra de inglês. Noventa e cinco por cento das pessoas que eu vi mortas nas casas, foram-no porque não sabiam falar inglês.’

“Os seus olhos estavam em lágrimas, pelo que acendeu outro cigarro e continuou a falar.

“ ‘Os soldados pensavam que as pessoas estavam a recusar as suas ordens, pelo que disparavam. Mas as pessoas só não os conseguiam perceber!’

Burhan foi preso por tropas dos EUA que o maltrataram quando perceberam que era um jornalista e confiscaram o seu equipamento e os filmes que encontraram com ele. “ ‘Eles prenderam mais de 100 pessoas da minha zona, incluindo mulheres e crianças. Tínhamos apenas uma casa de banho em frente ao local onde fomos todos mantidos e toda a gente tinha vergonha por ter de a usar em público. Não havia nenhum isolamento e os norte-americanos obrigaram-nos a usá-la com as algemas colocadas.’

“ ‘Eu vi bombas-cluster em todo o lado e tantos corpos que tinham ficado queimados, mortos sem nenhuma bala no corpo. Eles acabaram por usar armas de fogo, especialmente no bairro de Julan. Eu vi muitas vezes atiradores norte-americanos a disparar sobre civis. Eu vi um atirador norte-americano no minarete de uma mesquita a disparar sobre toda a gente que se movesse.’

“Ele também testemunhou algo relatado por muitos refugiados de Falluja.

“ ‘Vi civis que tentavam nadar no Eufrates para escapar e que foram todos mortos a tiro por atiradores norte-americanos no outro lado do rio.’

“A casa em que ele se encontrava antes de ter sido detido estava situada perto da mesquita onde o operador de câmara da NBC filmou a execução de um velho iraquiano ferido.

“ ‘A mesquita onde foi morto o ferido que o operador de câmara da NBC filmou –fica no bairro de Jubail – eu estava nesse bairro. Pessoas feridas e desarmadas usavam essa mesquita para terem segurança! Posso dizer-lhe que não havia lá nenhuma arma de qualquer tipo porque eu estive nessa mesquita. As pessoas só se escondiam lá por causa da segurança. Só por isso.’

“Ele testemunhou pessoalmente um outro horrível acontecimento relatado por muitos dos refugiados que chegaram a Bagdad.

“‘Na terça-feira, 16 de Novembro, eu vi tanques a rolar por cima dos feridos nas ruas do bairro de Jumariyah. Há aí uma clínica pública, pelo que nós a chamávamos de rua da clínica. Tinha havido uma dura batalha nessa rua, pelo que havia vinte corpos de resistentes mortos e alguns civis feridos à frente dessa clínica. Eu estava na clínica e às 11 da manhã do dia 16 assisti aos tanques a rolar por cima dos mortos e feridos.’

“Depois de uma outra longa pausa ele olhou durante algum tempo para fora da janela. Ainda olhando para a janela, disse: ‘Durante os nove dias em que estive em Falluja, todos os homens, mulheres, crianças e velhos que estavam feridos, nenhum deles foi evacuado. Ou sofreram até à morte ou sobreviveram de alguma maneira.’ ”

Contudo, apesar de tudo isto, a resistência continuou. A 13 de Dezembro ocorreram escaramuças com as forças dos EUA nos bairros orientais da cidade. O jornalista iraquiano Fadil al-Badrani disse à Al Jazeera que esses tinham sido os combates mais ferozes desde há duas semanas. Aviões dos EUA bombardearam a cidade e densas colunas de fumo erguiam-se dos bairros de Askari, Shuhadan Sinair e Jubail. Ainda recentemente, a 7 de Janeiro, as autoridades militares dos EUA informavam que os Marines dos EUA continuavam a travar batalhas na cidade e pediam ataques aéreos.

Os ocupantes estão a escolher os jornalistas que permitem entrar e quais impedirão de passar nos cinco postos que controlam os acessos. Um jornalista do New York Times escreveu a 7 de Janeiro que ele e os seus colegas tinham sido escoltados por Marines que lhes disseram que era “muito perigoso” falar com as famílias. A jornalista francesa Florence Aubenas estava a fazer entrevistas com refugiados de Falluja quando ela e o seu assistente desapareceram em Bagdad a 5 de Janeiro. As autoridades dos EUA negaram estar a mantê-la presa. Quem quer que seja o responsável, esta situação está a intimidar muitos jornalistas.

Entretanto, longe de terem “quebrado a espinha” da resistência, ao ataque norte-americano a Falluja seguiram-se os combates mais vastos e intensos desde que começou a ocupação. Mossul, a terceira maior cidade do Iraque, foi tomada por guerrilheiros durante um breve período e ainda é violentamente disputada, mesmo depois de alguns soldados norte-americanos terem sido deslocados de Falluja para aí. O mesmo acontece nalguns bairros de Bagdad. As autoridades norte-americanas admitiram que quatro das 18 províncias do país, que englobam cerca de metade da área do país (todo o país a oeste e norte de Bagdad, excepto o Curdistão) e muita da sua população, estava em grande parte fora do seu controlo.

RELATOS DE TESTEMUNHAS OCULARES SOBRE OS ÚLTIMOS MOMENTOS DE CANUDOS



Entre 1893 e 1897, poucos anos após a proclamação da República, a Bahia se apresentava como cenário de um dos mais extraordinários exemplos de mobilização popular que a história brasileira já registrou: o arraial de Canudos ou Belo Monte. Edificado por Antônio Conselheiro e seus seguidores, Canudos representou o anseio de liberdade que, há séculos, era alimentado pelos pobres do Nordeste. Ali, os sertanejos puderam, finalmente, adquirir sua tão sonhada autonomia. Livres do domínio dos coronéis e conduzidos pelos ideais de uma vida nova, eles foram responsáveis pela construção de um modelo alternativo de sociedade, onde teve lugar a prática da partilha e da solidariedade. Em pouco tempo, o arraial sertanejo se transformou num dos maiores aglomerados populacionais da Bahia, chamando a atenção do país e tornando-se, como alegava o barão de Jeremoabo, “a questão do dia que preocupa todos os espíritos lúcidos” do Brasil. Completamente insubmissa aos ditames do regime republicano, que acabava de se instalar no país, a comunidade de Canudos acabou despertando a ira das elites brasileiras, as quais resolveram apelar para o ataque. Era a Guerra de Canudos.

Em novembro de 1896, o governo republicano, apoiado pelos latifundiários e pela cúpula da Igreja Católica, declara guerra à “aldeia sagrada” dos sertanejos. Para exterminar Canudos, o Estado Brasileiro mandou ao sertão da Bahia nada menos que quatro expedições militares, totalizando um contingente de mais de 12 mil homens em armas - mais da metade do efetivo do Exército naquele momento. A capacidade bélica dos sertanejos, inicialmente subestimada, surpreendeu os inimigos. A cada batalha travada, as forças legais sofriam novas baixas e o poder de fogo dos canudenses saía fortalecido. As três primeiras expedições, que juntas totalizavam mais de 2 mil homens, foram esmagadas fragorosamente. As sucessivas derrotas puseram em pânico o Governo da República, que passou a ver em Canudos um perigo cada vez mais real e assustador. Impunha-se, portanto, que se tomassem medidas mais enérgicas. Afinal de contas – acreditava-se – era o destino da República que se encontrava em jogo. O Governo não tardou e uma nova expedição foi mandada às terras sertanejas, dessa feita, com mais de 10 mil soldados. As elites, então, puderam respirar aliviadas. Canudos, finalmente, estava liquidado. No conflito, morreram cinco mil soldados e todos os habitantes do burgo conselheirista.
No dia 5 de outubro de 1897, se deram os combates derradeiros. Era o desfecho de quase um ano de luta renhida, em que brasileiros guerrearam contra brasileiros. A seguir, os últimos lances dessa epopéia, narrados por testemunhas oculares:

"Canudos não se rendeu. Exemplo unico em toda a historia, resistiu até ao exgottamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, cahiu no dia 5, ao entardecer, quando cahiram os seus ultimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dous homens feitos e uma creança, na frente dos quaes rugiam raivosamente 5 mil soldados”

Euclides da Cunha [
Os Sertões] correspondente do Jornal O Estado de São Paulo em Canudos, 1897)


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“Ao clarear do dia 5, já pouco movimento se observava no centro inimigo; o fogo era fraquissimo e, nem mesmo mulheres se viam mais. Os soldados, impacientes, foram pouco a pouco se introduzindo nas ruinas dos fanaticos e, dahi a momentos, tinham varejado casa por casa, cujas paredes ainda se mantinham de pé, examinado vallas, subterraneos e tudo quanto havia de mysterioso ali. Os ultimos atiradores que encontraram ainda, de armas na mão, nervosos, alucinados, fazendo fogo sobre elles, morreram nessa occasião e sepultaram-se na mesma valla em que foram encontrados. Eram quatro: um velho, ferido na perna direita, um rapaz de 18 annos presumiveis e dois outros homens vigorosos. Estava tudo acabado”

(Emídio Dantas Barreto [
Destruição de Canudos], oficial do Exército, integrante da 4ª expedição contra Canudos, 1897)


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“Quando ao amanhecer do dia 5 soldados invadiram francamente o recinto onde tão singulares cenas eram passadas, o fogo de fuzil cessara de todo. Findara a resistência por falta de atiradores entre o inimigo e o incêndio também completara a sua obra, só restando pequenas fogueiras e espirais de fumaça, surgindo entre os escombros das habitações. Poucas casas escaparam ao fogo, mais em ruínas, devido à metralha.
No entanto, na trincheira, no centro do reduto, permaneciam 4 fanáticos sobreviventes do extermínio.
Esses haviam terminantemente recusado entregarem-se à intimação dos soldados e fizeram fogo. Eram: um velho, coxo por ferimento e usando uniforme da Guarda Católica; um rapaz de 16 a 18 anos, um preto alto magro e um caboclo.
Ao serem intimados para deporem as armas, investiram com enorme fúria. O preto, empunhando um machado, descarregava sendos golpes. Num momento eram cadáveres, ficando entre os muitos apodrecidos no mesmo local. Assim, estava terminada e de maneira tão singularmente trágica a sanguinosa guerra...”.

(Henrique Duque Estrada de Macedo Soares, [
A Guerra de Canudos] oficial do Exército, integrante da 4ª expedição contra Canudos, 1897)


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"A 5 de outubro, depois de uma resistência louca, digna de melhor causa, o inimigo sitiado pela sede que nele se fazia sentir horrivelmente, pela fome, pelo incêndio e pelas balas, entregou-se de vez, ou antes deixou se fazer ouvir pelo estampido dos seus bacamartes e detonação de suas armas, porquanto tinham perecido na luta todos os seus homens válidos, e quando as nossas forças penetraram no seu último esconderijo, ali se encontravam montão de cadáveres de homens, mulheres e crianças, que foi avaliado em número superior a oitocentos! O batalhão do Amazonas, tanto ou mais que nem outro, concorreu brilhantemente para o êxito final, batendo-se abnegada e heroicamente sem visar interesse de ordem alguma, e auxiliando por todos os modos o General-em-Chefe a debelar tão nefanda quanto desgraçada revolta”.

(Cândido José Mariano, [
A Força Pública do Amazonas em Canudos] atuou contra Canudos, como comandante de um corpo da Polícia Militar do Amazonas, 1897)


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“No dia 5 uma fulgurante aurora rompe n’aquella zona, que em tudo quer provar de quanto é capaz a magnificencia de nossa natureza.

Não viam-se mais aquellas densas nuvens de neblina, que quotidianamente circundavam os montes situados em derredor, occultando o regio astro nem ouvia-se o canto insupportavel do fuzil, mas apparecia illuminada a fimbria do horisonte, como que a indicar-nos a alviçareira nova que havia de surgir e feria-nos os ouvidos o canto mavioso do cardeal, que em abundancia lá existia; avistavam-se os montes, tendo coroados os seus cumes de linda neve como se fôra o symbolo argenteo da paz e do progresso.
A anciedade era geral: queriamos que se désse o desenlace ha tanto esperado, ainda mesmo que fosse coroado pelo infortunio, impossivel quasi n’essa occasião.
Estavam no acampamento mais de 800 jagunços e todos eram unanimes em dizer que já não existia o Conselheiro. Estavamos, eu e os companheiros de visita ao reducto, a conversar com o illustre Major Frederico Mára, junto a egreja nova, quando ao laborar o fogo pelo resto das casas, apenas foram vistos 3 homens. Então a tropa começou a entrar pelas demais ruas, vendo-se mulheres que, ao inquirir-se lhes se queriam agua, pois já fallavam mal, respondiam-nos que preferiam a morte.
Circulou, então, com relance do raio a noticia sublime de – Victoria! Victoria!

Alvim Martins Horcades [
Descrição de Uma Viagem a Canudos], estudante de medicina, integrou o corpo médico destinado a Canudos, 1897)

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“Estava marcado que Canudos seria arrasado neste dia...
O clarim deu sinal de degola e a tropa invadiu, por todos os lados, todo o arraial.
Fizeram mão rasa nos habitantes; a idade, o sexo, a cor, as condições fisiológicas dos que foram encontrados neste hediondo dia, em Canudos, não foram respeitados.
As roças foram incendiadas, as casa derruídas com os jagunços dentro.
O perfume podre dos cadáveres insepultos, que alastravam o arraial há dias, fora abafado pelo cheiro de carne assada que tresandava das fogueiras.
Mortos os maridos, a lei dos católicos não foi menos cruel do que a dos filhos de Brama para as viúvas.
Era preciso queimá-las e queimaram-nas.
O castigo era pouco e era mister um exemplo pomposo e feroz, que o tzar da Rússia e Torquemada nunca deram. Respeitaram estes, nas vítimas de sua perseguição, as que se achavam grávidas.
Em Canudos, os ventres em gestação, como caldeiras humanas, aqueceram-se, ebuliram-se e se não estouraram foi devido ao fogo já ter abrasado as paredes das comportas onde jaziam embriões e fetos que o fogo ia incinerar.
De mais se houve brados de socorro e misericórdia, a voz do incêndio e o estrondo do bombardeio abafaram!”.

(Manoel Benício [
O Rei dos Jagunços], correspondente do Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, em Canudos, 1897).


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“Afinal os canhões calaram-se e, dos flancos,
Da cidade sitiada, em rispidos arrancos,
Os soldados então desceram, suspendendo
As baionetas de aço, e foram envolvendo
O adversário infeliz num circulo de lanças,
Cada vez mais estreito. Os velhos e as crianças,
Não podendo correr, morriam transpassadas
Pelas armas. E sempre em ordem e animadas,
Seguiam para adiante as forças legaes, cheias
De intrepidez, com o sangue a referver nas veias...

(...)

Logo após se viu o mais terrivel
Quadro: Velhos de olhar horrifico e severo,
Jogavam-se no fogo; homens com desespero,
Lançavam-se tambem por entre as brazas quentes,
Crispando as mãos, olhando o céo, rangendo os dentes.
Com as carnes a chiar incendiada pelo
Fogo que lhes torrava os olhos e o cabello...
As mães, sentindo na alma impetuosas flammas,
Com os filhinhos no collo, atiravam-se ás chammas...
Era um drama de dor aquelle atroz martyrio,
Como um sonho horroroso em noites de delírio!

(...)

O combate acabou, quando na immensidade
A lua appareceu, triste como a orphandade”.

(...)

“ A cidade está desfeita em brasas...
Uma, e outra depois, foram cahindo as casas...
As chammas infernaes, brutas e malfazejas,
Incendiaram já as rusticas igrejas,
Cujas torres – que horror! – outr’ora tão queridas
E tão perto do céo, não foram destruidas
Pelo incendio brutal, porque antes os soldados
As tinham derruido a tiros continuados
De canhão... Felizmente as duas altaneiras
Torres, que eram tambem horrificas trincheiras,
Não viram este quadro...”.


(Francisco Mangabeira [
Tragédia Épica] estudante de medicina, integrou o corpo médico destinado a Canudos, 1897)

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“Não se pode dar um passo sem se tropeçar em uma perna, um braço, um crânio, um corpo inteiro, outro mutilado, um monte de cadáveres, aqui meio queimado, outro ali ainda fumaçando, outro adiante completamente putrefato, disforme, e ao meio de tudo o incêndio e uma atmosfera cálida e impregnada de miasmas pútridos. Por toda parte o cheiro horripilante de carne humana assada nos braseiros das casas incendiadas, 5.200 casas em labaredas!
Já não se ouvem as lamentações das mulheres e das crianças, nem as ameaças canalhas dos bandidos. A morte pela fome, pela sede, pela bala, e pelo incêndio, emudeceu a todos, substituindo as lamúrias do banditismo, pelos alegres sons dos hinos de vitória!
Canudos não existe mais!
Para a nossa infelicidade, basta a sua eterna memória, que mais parece um pesadelo.
Enfim, está acabado.
Na manhã de 5, tendo cessado o fogo às 5 e 50 minutos, a jagunçada começou a fazer entrega de mulheres e crianças, em número superior a cem, algumas feridas, mais ou menos gravemente, porém todas famintas, sedentas, esquálidas, verdadeiras múmias ambulantes, caminhando com dificuldade...
Os soldados lançavam lenha sobre as fogueiras, o Tenente Dourado lançava dinamite e em poucos minutos todo o recinto sitiado era um vasto incêndio, mal se ouvindo as agonias das vítimas do fanatismo.
E o incêndio lavrava desesperado e violento, devorando com suas labaredas, casas, homens, mulheres e crianças, nada poupando, nada respeitando. O fétido nauseabundo da carne humana em cremação, era insuportável para quem estava, como nós, a 20 metros de distância.
Canudos era uma vasta fogueira! As ruas estavam tapetadas por milhares de cadáveres!...
Uma mulher atirou-se às chamas com uma criança ao colo, outra estava morta na rua com uma criança colada aos mirrados peitos; muitos jagunços morreram queimados, dando vivas à Monarquia e ao Bom Jesus Conselheiro, recusando peremptoriamente darem vivas à República.
Nunca se viu uma campanha como esta, em que ambas as partes sustentaram ferozmente as suas aspirações opostas”.

(Fávila Nunes, correspondente do jornal Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, em Canudos, 1897)
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“No comboio de 5 chegou grande quantidade de querosene, que foi atirado às casas que restavam e aos fojos em que o inimigo se entrincheirava.
O incêndio aí tomou proporções infernais. Por entre as chamas queimavam-se madeiramento e corpos humanos; havia muita coisa de imensamente sinistro e os fanáticos, podendo fugir a essas línguas de fogo que se levantavam indômitas, atiravam-se a elas até com crianças, quando podiam render-se! Render-se...”


(Lelis Piedade, correspondente do Jornal de Notícias, de Salvador, em Canudos, 1897)

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“Em enorme buraco os nossos homens atearam grande fogueira. De dentro dolorosamente começaram a gritar: - Pelo amor de Deus, por Nossa Senhora, pela Virgem Maria, apaguem esse fogo que nos entregamos!
Corremos então à praça de Canudos. Percorrendo as ruas da cidade tive ocasião de observar o quanto se acha ela devastada, parecendo impossível que as suas casas ainda possam servir aos habitantes. Em alguns pontos vi enormes fogueiras, cujo principal combustível eram os corpos dos revoltosos, alguns dos quais ainda se acham insepultos dentro dos infectos pardieiros.
Voltando até a tarde assisti a um espetáculo inenarrável. Grupos e mais grupos de mulheres e crianças, a maior parte apresentando feridas gravíssimas, vinham de Canudos para o local em que estávamos, cobertos de imundície, nus, desfalecidos pela fome e pela sede.
À tarde, calculei em 400 pessoas quando as vi reunidas dentro do quadrado formado por praças do 1° batalhão de polícia do Pará e do 12° do Exército. No espaço misturavam-se tristemente gritos de dor, pedidos de um pouco d’água ou de um pedaço de carne”.

(Alfredo Silva, correspondente do jornal A Notícia, do Rio de Janeiro, em Canudos, 1897)